Qual é a diferença entre dengue, Zika e Chikungunya?

Saúde, como todos os direitos, depende de nossa ação coletiva

Por Selene Siman*
A crescente proliferação das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti tem gerado uma verdadeira onda de terror em todo país. Nós já conhecíamos esse inseto como transmissor da dengue, mas não tínhamos ideia daseleneameaça que ele representava, uma vez que as outras mazelas associadas à proliferação do Aedes Aegypti não tinham chegado ao Brasil. A partir do segundo semestre de 2015, com o surto de Zika e do Chikungunya, bem como a temível associação do vírus à microcefalia, nos foi apresentado um novo cenário, onde a erradicação do mosquito transmissor é imprescindível para o bem da saúde pública.

A CUT convoca todas as entidades filiadas a se integrarem nessa luta e a esclarecerem as bases sobre os sintomas, tratamento e, acima de tudo, sobre a prevenção das doenças, que por enquanto só poderão ser controladas se eliminarmos os criadouros e focos do mosquito.

Sabemos que as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti afligem sobretudo as classes menos favorecidas, constituídas por trabalhadores e trabalhadoras, que, além de padecerem mais com tratamento médico e altos custos com medicamentos, muitas vezes vivem em locais onde a reprodução do mosquito é facilitada pelo descaso público com o saneamento básico (água, esgoto, coleta de lixo e limpeza urbana) e com a própria manutenção das cidades, que ficam abandonadas e geram focos de reprodução do Aedes Aegypti.

Essa fragilidade para as classes mais pobres e trabalhadoras diante das doenças transmitidas pelo mosquito é comprovada por números. Só em 2016, o Distrito Federal registrou 1.794 casos de dengue. Um aumento de 50%. Destes casos, 420 foram confirmados só na cidade de Brazlândia.  Por ordem de ocorrências, aparecem depois São Sebastião (176), Planaltina (145) e Ceilândia (133). Um caso de morte por dengue hemorrágica foi confirmado, segundo a imprensa: o da enfermeira e cunhada do vice-governador, Renato Santana

dengue bsbÁguas Lindas, Luziânia, Padre Bernardo, Santo Antônio do Descoberto e Cidade Ocidental são os locais de maior incidência da doença no entorno. Nessas cidades, somaram-se mais de 200 pessoas infectadas apenas esse ano, sofrendo alta de 444,74% nos casos de dengue em relação ao mesmo período de 2015. Entre 78 casos suspeitos de Chikungunya e de Zika vírus em investigação,  houve, por enquanto, confirmação pelos órgãos de saúde de seis casos de Zika e cinco de Chikungunya.

Qual é a diferença entre dengue, Zika e Chikungunya?

Já conhecida pela maior parte dos brasileiros desde o surto de contágio no início dos anos 2000, a dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti que foi identificada pela primeira vez no Brasil há 30 anos. Estima-se que ocorrem 50 milhões de infecções por dengue anualmente no mundo e a principal forma de transmissão é pela picada do mosquito, apesar de haver registros de transmissão vertical (gestante-bebê) e por transfusão de sangue. Normalmente, o primeiro sintoma da dengue é uma febre alta (39° a 40°C) repentina, que dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. Perda de peso, náuseas e vômitos também são sintomas comuns.  A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, sangramento de mucosas, entre outros sintomas.

A febre Chikungunya é uma doença transmitida tanto pelo mosquito Aedes Aegypti quanto pelo Aedes Albopictus. No Brasil, a primeira circulação do vírus foi identificada em 2014, mas a primeira epidemia documentada no mundo foi entre 1952 e 1953 no leste da África. Além da febre alta, a Chikungunya também é caracterizada por dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Não é possível ter a doença mais de uma vez, depois de infectado, o indivíduo fica imune pelo resto da vida. Os sintomas têm início entre 2 e 12 dias após a picada do mosquito. O mosquito adquire o vírus CHIKV ao picar uma pessoa infectada, durante o período em que o vírus está presente no organismo infectado. Cerca de 30% dos casos não apresentam sintomas.

larvinhas do mosquitinhoJá o Zika é um vírus transmitido pelo Aedes Aegypti e identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015. Foi detectado pela primeira vez em 1947 e cerca de 80% das pessoas infectadas não apresentam manifestações clínicas. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Outros sintomas menos frequentes são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. No geral, os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. No entanto, a dor nas articulações pode persistir por aproximadamente um mês. Formas graves e atípicas são raras, mas quando ocorrem podem, excepcionalmente, evoluir para óbito, como identificado no mês de novembro de 2015, pela primeira vez na história. O principal modo de transmissão descrito do vírus é pela picada do Aedes Aegypti. Outras possíveis formas de transmissão do vírus Zika precisam ser avaliadas com mais profundidade, com base em estudos científicos, mas já existem suspeitas que a doença pode se proliferar pelo sangue, saliva e fluídos sexuais.

O Zika é associado aos recentes casos de microcefalia, uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, ou seja, igual ou inferior a 32 cm, o que pode causar dificuldades motoras, problemas neurológicos, convulsões, entre outros.

Em comum, as três doenças possuem como principal transmissor o Aedes Aegypti e nenhuma delas possui tratamento; apenas os sintomas são tratados. Também não há ainda uma vacina que previna essas doenças.

Microcefalia e cuidados especiais para as gestantes

A relação entre o vírus Zika e a microcefalia foi confirmada pelo Ministério da Saúde através de um bebê nascido no Ceará, com microcefalia e outras malformações congênitas. Em amostras de sangue e tecidos, foi identificada a presença do vírus Zika. Por se tratar de uma situação inédita na ciência, as investigações sobre o tema continuam em andamento para esclarecer questões como a transmissão desse agente, a sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e período de maior vulnerabilidade para a gestante.

Devido a essa situação, é recomendável que as mulheres grávidas sigam as mesmas recomendações gerais: usar roupas para proteger a pele evitando a picada e aplicar repelente nas áreas expostas, lembrando que as grávidas só podem utilizar repelentes que contêm DEET (dietiltoluamida), com concentração entre 10% e 50%.

As crianças de 6 meses a 12 anos não devem usar repelentes com concentração de DEET superior a 10% e os repelentes que contêm ircaridina também estão liberados para gestantes e para bebês acima de 2 anos.

Roupas claras ofuscam a presença do mosquito por brilharem muito e favorecem a visualização do inseto.

O Ministério da Saúde também recomenda que as mulheres que pretendem engravidar e moram em áreas de alta incidência do mosquito, adiem os planos até que o número de mosquitos seja reduzido.

Como podemos controlar essa epidemia?

Os governos têm movido algum recurso, especialmente nesta época, para conscientizar a população e eliminar os focos do Aedes Aegypti. Só no último fim de semana, mais de 200 mil militares, ao lado de agentes de saúde, foram às ruas e visitaram milhares de residências para esclarecer as pessoas sobre a importância de erradicar de vez o mosquito do nosso país.

milico contra dengueEntendemos que ações pontuais não são suficientes, embora importantíssimas. A erradicação só poderá acontecer com a mobilização total e permanente, inclusive de investimentos,  e o comprometimento da população. Poucos minutos por dia são necessários para modificar a situação e ajudar a controlar a proliferação do mosquito. Medidas como armazenar lixo em sacos plásticos fechados; manter a caixa d’água completamente vedada; não deixar água acumulada em calhas e coletores de águas pluviais; recolher recipientes que possam ser reservatórios de água parada, como garrafas, galões, baldes e pneus, conservando-os guardados e ou tampados; encher com areia os pratinhos dos vasos de plantas e tratar água de piscinas e espelhos d’água com cloro são ações fundamentais e que ajudam a evitar a disseminação do Aedes Aegypti.

Também é nosso papel conscientizar vizinhos, familiares e líderes comunitários para que os espaços públicos das nossas cidades sejam revistos e avaliados de acordo com os riscos que apresentam.

Não basta termos as informações. É preciso mudar nosso comportamento diário em relação à epidemia e ao combate aos problemas. Assim como é preciso ter consciência de que o combate e a erradicação dessas doenças e de outras transmissíveis não se limitam a eliminar focos residenciais e localizados de procriação e proliferação do mosquito ou de outros agentes transmissores. É preciso estar imbuído de que é necessário também exigir organizadamente, por meio dos movimentos sociais, sindicais e políticos, os investimentos públicos, em todas as esferas de governo, em saneamento e saúde para assegurar qualidade de vida, segurança e desenvolvimento social. Não são mais suficientes promessas de candidatos nos períodos eleitorais. É necessário cobrarmos diuturnamente os compromissos assumidos com políticas públicas e sociais que promovam o bem estar do povo.

Vamos enfrentar essa luta, trabalhadores! O zumbido de um mosquito não pode se sobrepor aos clamores, à vontade e ao direito à saúde de um país inteiro!

*Selene Siman é secretária de Saúde do Trabalhador da CUT Brasília e dirigente do Sindiserviços-Sindicato dosEmpregados terceirizados em serviços de asseio, conservação no Distrito Federal

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