BRB E O ESCÂNDALO MASTER: R$ 16 BILHÕES EM OPERAÇÕES SUSPEITAS ENQUANTO SERVIDORES SE AFOGAM EM DÍVIDAS
Sindicato denuncia contradição entre “resgate bilionário” de banco investigado por fraude e dificuldade de renegociação imposta aos superendividados da carreira PPGE no DF

A crise que envolve o Banco de Brasília (BRB) e o Banco Master, atualmente em processo de liquidação extrajudicial, escancara riscos financeiros, institucionais e sociais de uma operação bilionária que colocou o BRB no centro de investigações da Polícia Federal, Ministério Público e Banco Central.
Segundo documentos oficiais, o BRB repassou ao menos R$ 16,7 bilhões ao Banco Master entre 2024 e 2025 em operações de compra de carteiras de crédito sob suspeita de fraude. Parte dos títulos negociados seria “insubsistente” , ou seja, inexistente ou sem lastro real. O dono do Master, Daniel Vorcaro, foi preso. A diretoria do BRB foi afastada. E o Governo do Distrito Federal, controlador do banco, tenta blindar-se das consequências.
Enquanto isso, servidores públicos da carreira PPGE, muitos com salários líquidos inferiores a R$ 4 mil, convivem com comprometimento de renda acima de 40%, 60% e até 100% devido a dívidas contraídas junto ao próprio BRB, muitas delas em condições desfavoráveis. O sindicato aponta que 98% dos servidores superendividados no DF são clientes do BRB.
CRÉDITO FÁCIL PARA OS BANCOS, BARREIRAS PARA OS SERVIDORES
O BRB foi fundado com a missão de fomentar o desenvolvimento regional, apoiar políticas públicas e garantir acesso a serviços bancários aos cidadãos e servidores do DF. Mas, para o SAE‑DF, a realidade se distanciou desse ideal.
“Enquanto o banco injeta bilhões em instituições privadas, os trabalhadores enfrentam dificuldades até para renegociar o consignado. Não há margem, não há mediação, há apenas cobrança”, afirma a entidade.
Os relatos são recorrentes: servidores que recebem zero reais no contracheque após descontos compulsórios, cláusulas abusivas em contratos de antecipação e falta de canais de diálogo direto para renegociação.
TRILHA DO DINHEIRO PÚBLICO
Em março de 2025, o BRB e o Master fecharam um contrato de aquisição de carteira no valor de R$ 2 bilhões. Meses depois, o valor total de recursos repassados chegou a ultrapassar R$ 16 bilhões. A investigação aponta que o BRB teria seguido operando mesmo após alertas de órgãos de controle.
A Justiça Federal e o Banco Central identificaram “risco sistêmico” e indícios de “camaradagem financeira” entre dirigentes dos dois bancos, segundo os autos da investigação.
SINDICATO EXIGE PROVIDÊNCIAS
O SAE‑DF cobra que o BRB e o GDF promovam uma auditoria pública e transparente de todas as operações realizadas com o Banco Master. Também exige garantias concretas de que os recursos da previdência dos servidores públicos não serão afetados por eventuais prejuízos decorrentes dessas transações. Além disso, reivindica a criação de um programa emergencial de renegociação de dívidas para os servidores com alto comprometimento de renda, especialmente os que ultrapassam os 40%. É fundamental que haja a definição de um limite real para a margem consignável, respeitando o mínimo existencial de cada trabalhador. Por fim, o sindicato defende a responsabilização civil e penal dos gestores envolvidos, tanto no BRB quanto nas instâncias governamentais responsáveis.
“Não aceitaremos que o sacrifício dos trabalhadores da educação seja usado para cobrir o rombo de uma operação que nem sequer os beneficiou. A nossa luta é por dignidade, transparência e valorização”.
O sindicato prepara ações jurídicas, mobilizações públicas e articulação com o Legislativo para garantir que a crise no BRB não recaia sobre os ombros de quem mais precisa do banco: seus trabalhadores e clientes fiéis.



